“Diário de bordo de uma jovem que aprendeu a
viver com AIDS”. Uma história de força, de coragem, de superação. Valéria é
uma grande mulher no auge de sua adolescência. Uma garota como tantas outras.
Forçada, como tantas outras, a amadurecer. A vida às vezes parece injusta.
Valéria é uma
garota como tantas outras garotas. Ela é jovem, gosta de se divertir, gosta de
viajar, gosta de amigos e sonha em ser alguma coisa, em alcançar algum lugar e
está no caminho certo. Aos 16 anos, como quase todas as garotas, tinha um
namorado. Um namorado mais velho.
Desse
relacionamento surgiram muitas coisas novas: o amor, o comprometimento, a
relação sexual, o ciúme e a violência, mas, infelizmente, somadas essas coisas
não resultaram em algo saudável.
Na época do
seu primeiro namoro a AIDS ainda era um fantasma que assombrava apenas ao gays
e as prostitutas. Pura bobagem! Hoje é claro que sabemos que qualquer um está
sujeito a uma dessas DSTs e que a única forma de se livrar delas é o uso de
camisinha. Mas Valéria não sabia disso e acabou por não usar. Resultado? Ela
contraiu HIV.
Depois de um
fim de namoro conturbado porque apanhava do namorado e tinha medo de contar,
até que finalmente foi vista apanhando pela avó passaram-se dois anos até que
uma dor a levou ao médico.
Os sintomas
acusavam dor no esôfago e foi o que o médico foi averiguar, apesar de ter dito
que ninguém daquela idade tinha dor ali. Mas ela tinha. E tinha mais: sapinho, ou
melhor, candidíase. E aí foi uma bateria de exames, um curto período de tempo e
BAM! Lá veio o resultado. Ela estava com AIDS.
Fico
imaginando como é, na época em que uma doença é considerada o mau do século,
você a pegar. O que é se imaginar morrendo aos poucos, definhando. Não deve e realmente não foi fácil também para Valéria e sua família.
Durante o fim
do seu Ensino Médio apenas seus pais e alguns tios e tias sabiam sobre a
doença. Valéria se recusou a tomar os remédios que aumentavam sua imunidade,
talvez por estar descrente de tudo, afinal, quem não estaria?
Se há algum
motivo pra ninguém ter sabido sobre sua doença? Preconceito. As pessoas acham
que respirar o ar de um soro positivo é sinônimo de contrair a doença. Pelo
contrário, até mesmo o sexo com camisinha pode ser livre da contaminação.
Quando
terminou o Ensino Médio Valéria fez vestibular. Entrou para a universidade e
largou em pouco tempo. E porque? Porque ela morreria, pelo menos, era o que
pensava. Não teria tempo de concluir o curso, e, se tivesse, não teria forças
para exercer a profissão. Acabou também por afastar-se dos amigos.
Pra não ficar
sem fazer nada resolveu dedicar-se a um curso de teatro. Terminou mas não foi
exercer a profissão. Resolveu ir para a Califórnia estudar inglês (na verdade,
aprimorar o inglês que já tinha adquirido e fugir das pessoas que ela não
queria prejudicar com a sua convivência).
Ao chegar a um
novo país, deparou-se com culturas diversas de estudantes do mundo todo.
Chineses, coreanos, árabes, americanos, russos... Todos ali, cada um com a sua
forma de viver e tornando-se, um para o outro, grandes amigos... Amigos? Não
era o que Valéria se considerava, é claro, e o motivo? Ela não tinha coragem
nenhuma de contar para ninguém que estava doente.
E não contou
mesmo. Não contou até que precisou conhecer uma das primeiras pessoas que
ajudaram a virar a vida de Valéria do abismo e ir para o horizonte: o doc. Gust. Valéria precisou consultar o
médico da universidade e, por ser uma paciente soropositiva, precisou contar
toda a sua história. Claro, ele não era um especialista, mas fez todas as
recomendações de exames, tratamentos e etc. que ela deveria fazer. No início
resistiu a todos os tipos de remédios existentes nos Estados Unidos para
controlar a doença. Estava em depressão. Não enxergava sentido na vida.
Ainda sem
sonhos e sem remédio terminou o curso. Enquanto ainda o fazia, conheceu Lucas,
um homem que se tornou um grande amigo. Ensinou Valéria a se distrair, a pensar
menos, a meditar. Eles faziam trilhas, iam a cafés, subiam montanhas e viam
filmes juntos. Um outro lado importante da vida: os amigos.
Helen era sua
professora e, quando não podia mais ficar na universidade, passou a dividir a
casa com Valéria. Uma nova amiga, pra quem Valéria teve coragem de contar tudo
e acabou se surpreendendo: para Helen, não havia problema algum, além do mais
ela ajudou Valéria a tomar coragem e contar tudo para Lucas, afinal, ele era um
grande amigo que merecia confiança.
O momento do
falar a verdade foi doloroso para os dois. Lucas chorou e confessou, a partir
dali, que passara a entender o modo de ver e falar da vida que Valéria tinha.
Passou Natal e
Ano-Novo e o estado de saúde de Valéria não era bom, o que a fez voltar para a
casa às pressas. Algumas despedidas de pessoas queridas de um lado da América e
a chegada ao outro lado: ah, como era bom estar em casa. Mas
infelizmente nem a volta para a casa ajudou. Valéria ficou muito tempo
internada em idas e vinda no hospital onde conheceu muita gente disposta a
ajudar (enfermeiras, auxiliares, faxineiras e estagiários) onde conheceu dois
novos amigos: o Dr. Anjo e o Dr. Afeto, que antes era o Dr. Infecto. porque
era, para Valéria, desumano e horrível.
Mas nada como
uma releitura da vida em momentos de apuros para perceber que ele precisava ser
um homem frio. Ele precisava ser aquilo que ele demonstrava para ajudar a
controlar uma doença tão destrutiva como a AIDS.
Juntos,
família (agora já toda sabendo sobre a doença de Valéria), amigos (também todos
sabendo) e equipe do hospital convenceram Valéria a tomar os medicamentos e
ficar bem. Não foi fácil, houveram muitos efeitos colaterais mas ela conseguiu
manter-se viva e firme ao lado daqueles que, agora ela sabia, jamais a
abandonaria.
A mensagem que
fica com essa história é o valor da informação, da precaução e do cuidado. Uma
coisa simples que todo jovem sabe pode ser importante para mudar uma vida
inteira. AIDS não mata. O que mata é a vergonha, o preconceito. AIDS não é
sinônimo de morte. Não é uma catástrofe iminente. Pode ser apenas uma porta por
onde outras coisas possam entrar.
“E esse pode ser o lado bom da AIDS, pensei, fazer com que eu saia do lugar-comum e consiga ver as coisas por um prisma diferente.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário